• Para saber mais 2

    Artigo: A dimensão geopolítica da formação territorial brasileira

    O centralismo administrativo colonial português é um relevo relativamente plano quando comparado com o acidentado relevo andino, representaram para o nascente Estado brasileiro um país de dimensões continentais, em uma unidade territorial que contrasta com a fragmentação política vivenciada pela América Espanhola. Para o geógrafo Manoel Correia de Andrade (2001), essa facilidade das comunicações internas continuaria a se manifestar no período pós-independência através da defesa da livre-navegação dos rios da Bacia Platina e da manutenção da Província Cisplatina sob a bandeira do Império do Brasil.

    Paulo Schilling recorda que o envolvimento brasileiro nas questões internas dos países platinos e a anexação do Acre ― tomado aos bolivianos em 1903 ― ocorrem em pleno período republicano, e que a expansão na forma de exploração dos recursos energéticos dos países da região prossegue até os dias de hoje. Com efeito, a partir dos anos 70, a penetração nos países vizinhos dos interesses empresariais de empreiteiras brasileiras e de filiais de indústrias transnacionais, bem como do setor financeiro brasileiro, levou o francês Yves Lacoste a classificar o Brasil no rol de “país subimperialista”, e mais recentemente, Immanuel Wallerstein a usar o termo “semiperiférico” por este papel intermediário realizado por países como o Brasil nas relações entre os países centrais e os países periféricos.

  • Nessa projeção econômica brasileira pela América do Sul, o principal obstáculo encontrado foi a Argentina, que tinha seu próprio projeto de hegemonia regional. Com regimes militares de ambos os lados da fronteira, Brasil e Argentina passaram a se ver com maior desconfiança. Para piorar a situação, Brasília e Buenos Aires desenvolviam programas nucleares próprios.

    O movimento estratégico-militar de contenção fronteiriça dirigido pelo regime militar brasileiro representou a concentração de unidades militares na proximidade da faixa de fronteira com a Argentina. Essa lógica foi seguida pelos Estados vizinhos, especialmente a Argentina que, até a Guerra das Malvinas (1982), mantinha suas forças armadas concentradas em suas fronteiras terrestres. Esse tensionamento geopolítico resultou no enrijecimento extremo das fronteiras brasileiro-argentinas, lógica subvertida apenas com o advento do Mercosul.



    Fonte: Baseado em ALBUQUERQUE, Edu Silvestre de. Uma breve história da geopolítica. Rio de Janeiro: CENEGRI, 2012.