A tese do “choque de civilizações” e a reafirmação da hegemonia ocidental. Em 1997, o cientista político norte-americano Samuel P. Huntington lançou o paradigma civilizacional como novo modelo interpretativo do sistema internacional, e que acabaria convergindo fortemente com a nova agenda de política externa norte-americana pós 11 de setembro de 2001. Doravante, a natureza dos conflitos mundiais não ocorreria mais por questões ideológicas ou econômicas, mas por causas culturais.
O desenvolvimento econômico no mundo não ocidental tende a acirrar a competição por poder no sistema internacional, exigindo uma estratégia de contenção à altura desses novos desafios ao ocidente. A origem dessas ameaças é claramente situada por Huntington na conexão confuciana-islâmica, que casaria o industrialismo chinês com os vastos recursos petrolíferos do Oriente Médio e Ásia Central, além do repasse de tecnologias militares chinesas aos países islâmicos.
O filósofo político José R. Novaes Chiappin compara a tese de Huntington à estratégia de contenção de George Kennan. A tese de S. Huntington visaria a consubstanciar “uma nova estratégia de contenção” para o mundo ocidental, centrada na ideia da disputa de poder entre as três grandes civilizações – Ocidental, Islâmica e Confuciana.
Em verdade, com o paradigma civilizacional, os Estados Unidos alcançam diversos objetivos políticos, dentre eles: a) a manutenção do apoio europeu à aliança da OTAN em nome dos “interesses civilizacionais do ocidente cristão”; b) a reversão da construção de uma sociedade multiétnica e pluralista dentro do próprio país; c) o intervencionismo militar em países não ocidentais que desafiem os interesses norte-americanos.
A teoria Eurasiana de A. Dugin. Ao lado da espetacular ascensão chinesa, a reemergência da Rússia é outro fator geopolítico de peso na disputa pela hegemonia da Eurásia. A Rússia barganha com seu gás natural para pressionar a Ucrânia a congelar as conversações de adesão a OTAN. E no Cáucaso, a Rússia promoveu uma ampla intervenção militar em 2008, alegando “proteger os enclaves da Abhkázia e Ossétia do Sul”, quando desejava, na verdade, evitar a inclusão da Geórgia na OTAN, uma vez que as diretrizes daquela organização proíbem a entrada de países com presença de tropas estrangeiras.
Com efeito, a Rússia não poderia mesmo resignar-se à condição de mais uma pequena república do Leste Europeu, como a própria teoria mackinderiana do heartland advogava. Herdeira de um fabuloso parque industrial militar e de vastos recursos naturais, os interesses russos se projetam pelo Leste Europeu, Cáucaso e Ásia Central (onde já mantinha suas bases militares do período soviético). Por sua vez, o antigo sonho geopolítico russo de abrir passagem desde o sul do Cáucaso para as águas de mares quentes do Índico renasce com a participação de Paquistão e Irã como Estados Observadores da OCX.
Nesse contexto, as ideias geopolíticas do russo Aleksandr Dugin dialogam fortemente com a política exterior dos nacionalistas russos. Dugin lançou o movimento eurasianista, que defende as tradições culturais a as peculiaridades geopolíticas russas em contraposição ao projeto de modernização ocidentalizadora da globalização. As raízes de Dugin também estão em Halford J. Mackinder, afirmando a primazia do confronto entre potências terrestres e potências marítimas (atlantistas) nos destinos da geopolítica mundial, e o papel central da Rússia na massa eurasiática em razão da posição geográfica e dos recursos naturais.
Os eurasianistas não pregam a superioridade cultural eslava, mas uma luta multicultural dos povos da Eurásia contra o Ocidente:
Suas bases ideológicas atestam que a Rússia pós-soviética, para dominar o espaço eurasiano, necessita construir um Estado multiétnico e multirreligioso, promover alianças no plano externo e reforçar o estabelecimento de eixos geopolíticos estratégicos, tais como os eixos Berlim-Moscou, Moscou-Teerã e Moscou-Pequim (SOUSA, 2012, p. 67).