Antártida

Na década de 1950, a tese da defrontação da geógrafa Therezinha de Castro justificava posses territoriais brasileiras na Antártida a partir da projeção de nossas linhas longitudinais extremas na direção daquele continente.

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Heartland Sul-Americano

Os geopolíticos militares brasileiros viam no fortalecimento das regiões fronteiriças uma etapa necessária à projeção de poder no subcontinente.

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Fronteiras

As décadas de 1930 a 1960 foram extremamente efervescentes no pensamento geopolítico brasileiro, com as teses e obras dos militares Mário Travasos e Golbery do Couto e Silva.

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Amazônia

Desde os anos 1980, assistimos um deslocamento do conceito de fronteiras vivas da Bacia do Prata para a Amazônia, promovido tanto pelos militares quanto pelo governo brasileiro.

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Atlântico Sul

O documento oficial “Estratégia Nacional de Defesa” (2008) elege a Amazônia Azul como área prioritária de defesa ao lado da Amazônia, em razão da riqueza petrolífera do pré-sal e das possibilidades de extensão do mar territorial para 350 milhas. O principal vetor da defesa do Atlântico Sul é desempenhado pelo submarino nuclear em desenvolvimento para Marinha brasileira através da transferência de tecnologia francesa.

Hemisfério Sul

O geógrafo André Roberto Martin tem defendido a tese da meridionalidade condicionante geopolítico orientador da diplomacia brasileira.

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Antártida

Na década de 1950, a tese da defrontação da geógrafa Therezinha de Castro justificava posses territoriais brasileiras na Antártida a partir da projeção de nossas linhas longitudinais extremas na direção daquele continente. Dizia a pesquisadora do IBGE que o Atlântico Sul era a área pivô da defesa ocidental, com o Brasil ocupando uma posição estratégica entre as passagens caribenha e austral, relembrando a projeção do saliente nordestino defronte ao litoral ocidental africano (o eixo Natal-Dakar).



Heartland Sul-Americano

Os geopolíticos militares brasileiros viam no fortalecimento das regiões fronteiriças uma etapa necessária à projeção de poder no subcontinente. No livro Projeção Continental do Brasil (1931), Mário Travassos defende políticas de desenvolvimento econômico e de transportes das regiões Centro-Oeste e Norte (noroeste) como forma de articulação dos interesses industriais brasileiros localizados no Sudeste do país com os recursos minerais e energéticos do heartland sul-americano — denominação do autor ao núcleo de terras localizado no centro do subcontinente e formado por Bolívia e Paraguai.

A Argentina largava em vantagem em relação ao Brasil na luta pela hegemonia do heartland sul-americano, em razão da hidrovia que unia o Paraguai ao porto de Buenos Aires, bem como da ferrovia construída quase em paralelo ao grande rio. Entretanto, sem recursos para a modernização da hidrovia e da ferrovia, a Argentina seria suplantada pela logística projetada pelo governo militar brasileiro. Essa logística envolvia uma rodovia que partindo do porto de Paranaguá, após cruzar o estado do Paraná no sentido leste-oeste, se projetava pela fronteira com o Paraguai. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro franqueou aos paraguaios instalações no porto de Paranaguá para realizar seu comércio exterior (inclusive é por ali que entram as mercadorias vindas de Taiwan e depois contrabandeadas na Tríplice Fronteira). A satelitização do Paraguai foi completada com a construção da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu, iniciada nos anos 70, pois quase toda a energia gerada no complexo é consumida no Brasil.

Nos anos 90, os interesses brasileiros abarcam também a Bolívia, com a construção do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), ramal energético vital para transportar o excedente de gás natural boliviano para o abastecimento do parque industrial localizado no Centro-Sul brasileiro.



Fronteiras

As décadas de 1930 a 1960 foram extremamente efervescentes no pensamento geopolítico brasileiro, com as teses e obras dos militares Mário Travasos e Golbery do Couto e Silva. Com a consolidação da República e a estabilização dos limites fronteiriços do país, a política externa intervencionista e o expansionismo territorial que caracterizara o período colonial e imperial pareciam acontecimentos remotos. Mas a questão da integração nacional continuava preocupando os políticos e militares brasileiros, de modo que a questão aparece imbricada à agenda do desenvolvimento regional e do fortalecimento militar das fronteiras.

Até hoje, as políticas de desenvolvimento regional brasileiras enfatizam as regiões periféricas, com o Centro-Oeste e o Norte como as regiões de maior crescimento econômico nas últimas décadas. Reflexo desse crescimento econômico, a participação dessas duas macrorregiões no total da população brasileira saltou de 7,7%, em 1962, para 14,9%, em 2004.


Amazônia

Desde os anos 1980, assistimos um deslocamento do conceito de fronteiras vivas da Bacia do Prata para a Amazônia, promovido tanto pelos militares quanto pelo governo brasileiro. Entretanto, aqui é preciso dar crédito ao general Golbery do Couto e Silva, quando afirmava:

Estende-se aquela fronteira terrestre, em grande parte, através do deserto que a Hiléia domina como vasto cinturão protetor. Essas condições favoráveis de início é que asseguram o indispensável grau de imunidade a ações de conquista, mantidas em potência ou duração, provindas do exterior. É, de fato, a própria insularidade em proporções continentais. (Golbery do Couto e SILVA, Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1981, p. 108).

Para ele, as dificuldades impostas pela floresta equatorial deteriam quaisquer forças invasoras que tentassem atravessar a fronteira norte. Não obstante à visão estratégica de Golbery, no governo de José Sarney, tem início o projeto Calha Norte, que prossegue hoje com outros nomes, implementando uma política de longo prazo de deslocamento de unidades militares do Centro-Sul para a Amazônia, além da dispersão de um cinturão de pelotões de fronteira nesta região.

Também no documento Estratégia Nacional de Defesa (2008), elaborado no governo Lula, as diretrizes básicas de organização da defesa brasileira insistem nessa visão militarizada das fronteiras nas várias referências à Amazônia. No momento em que a diplomacia brasileira se esforça em convencer as nações vizinhas da necessidade da integração física regional e da integração dos parques industriais militares (proposta no âmbito da União de Nações Sul-Americanas e do Conselho de Defesa Sul-Americano), a securitização das fronteiras amazônicas pelo viés militar poderá nos causar problemas políticos sérios.




Hemisfério Sul

O geógrafo André Roberto Martin tem defendido a tese da meridionalidade condicionante geopolítico orientador da diplomacia brasileira. O meridionalismo nega a visão maniqueísta de mundo baseada na oposição entre ocidentalismo e orientalismo, ao mesmo tempo em que pensa uma inserção brasileira para além das limitações geográficas do mundo tropical.

Para Martin, a globalização econômica impõem tentativas de recolonização do Sul pelo Norte, com a reedição dos modelos exportadores de commodities agrícolas, minerais e energéticas, representando uma involução da etapa industrial experimentada por alguns países meridionais. O autor destaca a necessidade de retomada do modal ferroviário, pensado para integrar o país e o subcontinente, ativando a indústria do aço e de material de transporte, criando escala inclusive para a indústria naval.

Com efeito, a diplomacia brasileira tem reforçado, no presente século, parcerias estratégicas em distintas regiões do globo, incluindo Ucrânia, França, Argentina China, África do Sul e Índia. Também apostamos na capacidade de liderança pacífica do Brasil no subcontinente, liderando os esforços diplomáticos que resultaram na criação da UNASUL e do CDS. Para André Martin, o CDS pode resolver o desafio duplo da segurança e do desenvolvimento regional se edificar com êxito uma Base Industrial de Defesa na escala subcontinental.