Ferrovias
No início do séc. XX, as ferrovias anunciavam uma nova geografia econômica mundial, afetando o equilíbrio de poder baseado no poder naval.
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Rio Volga
Geograficamente, o Heartland(“Coração da terra”, em tradução literal) mackinderiano se projetava desde o rio Volga (Rússia) ao rio Yangtzé (China), com limite sul na cordilheira do Himalaia e limite norte nos mares gelados do Ártico. Com efeito, o continente europeu agora não passava de uma península deste megacontinente geopolítico chamado de Eurásia.
Minério
Mackinder observara que, examinadas as extensões de terras emersas do globo, destacava-se o núcleo central da Eurásia, reunindo vastos recursos naturais como terras agricultáveis (planas e bem irrigadas) e uma infinidade de minérios necessários ao desenvolvimento industrial. Além do potencial econômico, a condição continental do núcleo central eurasiático e de suas bacias hidrográficas interiores garantia a proteção contra ataques das forças navais em razão da profundidade estratégica.
Alemanha
A estratégia de contenção mackinderiana baseava-se na coligação naval entre Inglaterra e Estados Unidos, esperando deter o Estado ou bloco de poder hegemônico na área pivô eurasiática.
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Cordão sanitário
Ao término dos conflitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Mackinder pode colocar em prática suas ideias.
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Russia
A Rússia somente se tornou um problema mais sério para a coligação naval Inglaterra – EUA no contexto da Bipolaridade ou Guerra Fria.
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China
A dissolução da União Soviética em 1991 anunciava novos tempos, não apenas marcados pelo triunfo do liberalismo, mas pelo deslocamento do estado-pivô do Eixo Alemanha-Rússia para a China.
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Ferrovias
No início do séc. XX, as ferrovias anunciavam uma nova geografia econômica mundial, afetando o equilíbrio de poder baseado no poder naval. A Grã-Bretanha detinha a hegemonia dos mares, mas passava a temer a ascensão da Alemanha e da Rússia. Nesse momento, o diplomata e geopolítico britânico Halford John Mackinder (1861-1947) profere sua conferência “The geographical pivot of history”, em 25 de janeiro de 1904, nos salões da Royal Geographical Society. O “Geographical Journal” publicaria a tese mackinderiana do geographical pivot, classificado mais tarde pelo geopolítico alemão Karl Haushofer como “uma obra-prima geopolítica”.
Abandonando a tradicional Projeção de Mercator por exagerar as proporções do continente europeu, Mackinder deslocava a noção de centro geográfico do planeta para o núcleo da massa terrestre eurasiática, doravante denominada de “área pivô”. No mapa-múndi mackinderiano, a área pivô era rodeada por dois grandes arcos. O primeiro, chamado de Crescente Interno, correspondia ao espaço natural de expansão do poder terrestre, desejando projetar-se também enquanto poder anfíbio e, por via de consequência, deveria representar a primeira linha de defesa do poder marítimo. Era justamente no Crescente Interno que localizavam-se os impérios alemão, austro-húngaro e turco-otomano, juntamente à Índia (então colônia inglesa) e à fragmentada China. Já o segundo arco, o Crescente Externo, correspondia ao espaço natural de projeção do poder marítimo, abrigando as grandes potências econômicas e militares do período, como Inglaterra, Estados Unidos e Japão, além dos domínios britânicos do Canadá, África do Sul e Austrália.
Alemanha
A estratégia de contenção mackinderiana baseava-se na coligação naval entre Inglaterra e Estados Unidos, esperando deter o Estado ou bloco de poder hegemônico na área pivô eurasiática. Dizia o autor: “Quem domina a Europa Oriental controla o Heartland; quem domina o Heartland controla a World Island; quem domina a World Island controla o mundo” (apud MELLO, 1999, p. 56). Daí o temor de que a Alemanha viesse a conquistar as enormes riquezas das estepes russas e, controlado o heartland (“coração da terra”), acabasse adquirindo profundidade suficiente para conquistar a Europa Oriental e, depois, lançar-se na direção da própria Inglaterra.
A Alemanha se aliou com o Império austro-húngaro na esperança de controlar o continente europeu, mas acabou derrotada. Mas a Alemanha se reergueria novamente com o nazismo, projetando construir uma ferrovia até o Golfo Pérsico. A Inglaterra sabota o projeto alemão, fomentando os nacionalismos nos Balcãs na esperança de inviabilizar o traçado ferroviário até as fontes de petróleo. A Segunda Guerra Mundial repetia, assim, os antagonismos geopolíticos entre poder naval e poder terrestre da guerra anterior.
Cordão Sanitário
Ao término dos conflitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Mackinder pode colocar em prática suas ideias. O poder naval britânico detivera com sucesso o avanço alemão no Crescente Interno, derrotando a aliança formada por Alemanha, Império austro-húngaro e Império turco-otomano. Mackinder participara das reuniões destinadas a redesenhar o mapa europeu como representante diplomático britânico, propondo a criação de uma série de Estados-tampões, com o único objetivo de funcionar como “cordão sanitário” entre Alemanha e Rússia. Os territórios que formaram o “cordão sanitário” mackinderiano foram desmembrados dos quatro grandes impérios ruídos da Primeira Guerra: o russo, o alemão, o austro-húngaro e o turco. Aos sete países que compunham a zona de contenção original da proposta de Mackinder — Polônia, ThecoEslováquia, Hungria, Iugoslávia, Bulgária, Romênia e Grécia —, somaram-se pouco depois os Estados Bálticos e a Finlândia.
Russia
A Rússia somente se tornou um problema mais sério para a coligação naval Inglaterra – EUA no contexto da Bipolaridade ou Guerra Fria. A aliança atlantista se consolida com o bloco militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (1949), enquanto a Rússia agregava 14 outros países para formar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e formava o bloco militar do Pacto de Varsóvia (1955), reunindo, inclusive, alguns dos Estados-tampões do “cordão sanitário” mackinderiano. Nesse espírito, o Plano Marshall de ajuda econômica para a reconstrução europeia visa exatamente inviabilizar a ascensão do movimento socialista na própria Europa Ocidental, enquanto que a criação da OTAN garantia a segurança coletiva em caso de agressão soviética. Na prática, essa tutela financeira e militar representava a hegemonia estadunidense também na Europa Ocidental.
A fundamentação da nova estratégia de contenção da coligação naval EUA – Inglaterra viria do diplomata e cientista político estadunidense George Frost Kennan. Suas ideias aparecem no livro “Containment Theory”, de 1947; mesmo ano em que o presidente norte-americano Harry Truman pronuncia famoso discurso de comprometimento total da América na contenção ao avanço do comunismo na Europa e no mundo, oficializando a estratégia de contenção que ficaria conhecida por “Doutrina Truman”.
O realismo de Kennan aparece em sua aposta na supremacia do poder naval estadunidense como única estratégia capaz de deter o avanço soviético nas regiões costeiras estratégicas da “ilha mundial” eurasiática.
China
A dissolução da União Soviética em 1991 anunciava novos tempos, não apenas marcados pelo triunfo do liberalismo, mas pelo deslocamento do estado-pivô do Eixo Alemanha-Rússia para a China, como destacado pelo geopolítico Leonel I. de Mello. Paradoxalmente, foram os Estados Unidos que garantiram a maior parte dos investimentos industriais chineses, no âmbito da estratégia de isolamento da Rússia comunista.
Mas Washington não quer uma projeção militar chinesa, mantendo Pequim afastada da “província rebelde” de Taiwan e tentando impedir que a China volte a controlar o Mar da China. A questão é quanto de poder econômico a China ainda conseguirá converter em poder militar, sem prejudicar sua estratégia exportadora para o próprio mercado norte-americano e de seus aliados.
A Organização de Cooperação de Xangai (OCX), criada em 2001, representa uma aproximação estratégica entre China e Rússia para questões de segurança (troca de informações sobre terrorismo e manobras militares conjuntas). A OCX também representa uma oportunidade para russos e chineses avançarem coordenadamente sobre os recursos minerais da Ásia Central através de “movimentos geopolíticos de pinça”, especialmente o petróleo e gás do Mar Cáspio, visando contrabalançar a crescente influência de empresas ocidentais e a presença de bases militares norte-americanas na região.